terça-feira, maio 20, 2008

Beleza Impura

SEM VACINA PROTETORA 
 No último capítulo da novela os impostores serão punidos e os bandidos desmascarados. Contudo, durante meses, os bandidos são premiados, os “mau caráter” muito bem sucedidos. Os amigos serão traídos, e toda sorte de mutreta será ensinada pedagogicamente ao telespectador: derrubar helicópteros, colocar produtos falsificados na prateleira dos inimigos e dos concorrentes, ludibriar a boa fé dos ingênuos. Etc.etc. Até fabricar chaves falsas andam ensinando nas novelas. Os virtuosos são quase todos uns idiotas, a partir do cinquentão, cujo QI não permite perceber nada. Verdade que os engenheiros são pessoas crédulas em tudo o que não diga respeito à tecnologia e à razão. O personagem de Edson Celulari, no entanto, não consegue perceber que um helicóptero, testado e re- testado, não pode cair por erro de projeto, no colo do inimigo. Tudo é ridículo, mas isso não importa. O que importa é a lição de bandidagem vitoriosa, de Carolina Ferraz, oferecida durante meses, em troca de uns dias finais, nos quais as virtudes burguesas poderão prevalecer. Os efeitos produzidos por uma novela são o contrario dos efeitos desejados por Stanislavski ao montar uma peça de teatro. O diretor queria que a vida real do personagem produzisse uma catarse capaz de fazê-lo transcender, no papel. A novela, ao contrario, faz com que a irrealidade de cada apresentação se transforme em vida real para os telespectadores, para que ele desça inexoravelmente ao andar térreo. Hábitos, costumes, linguagem, comportamento, juízo moral, e todos os demais componentes do caráter coletivo e individual, são introduzidos como um vírus no tecido social. Ainda não há vacina conhecida contra a burrice maquiada. Fonte: Blog do Jorge Cunha Leite